DESENVOLVIMENTO
INFANTIL E APRENDIZAGEM DA LINGUA ESCRITA
A Psicologia, ao
longo das primeiras décadas do século XX, cumpriu um papel de destaque nesse
reconhecimento da infância como um tempo específico da vida humana. Entretanto,
a escassa produção científica sobre a infância, desde a perspectiva de outras
áreas do conhecimento, tais como da Sociologia, da História ou da Antropologia,
dificultou a construção de um saber capaz de percebê-la como um fenômeno sócio-histórico.
Sob a forte influência da Psicologia e sem o necessário intercâmbio entre os
olhares conceituais e metodológicos de outras áreas do saber científico, a
infância foi compreendida como um fenômeno relacionado à vivência cronológica,
cuja lógica e estrutura se pautavam pelos aspectos ligados à natureza. Assim
fundamentados, alguns estudos no campo da Psicologia concederam pouca relevância
à cultura na constituição da infância.
A
aquisição do sistema de escrita, assim como de outros sistemas simbólicos,
adquire uma relevância estrutural em termos mentais e cognitivos para o
indivíduo que passa a dominá-lo e não pode ser alcançada de maneira puramente
mecânica e externa, ao contrário, pressupõe o culminar, na criança, de um
processo de desenvolvimento de funções comportamentais complexas (VYGOTSKY,
2000). Essas conclusões a que chega Vygotsky, tornadas públicas nas primeiras
décadas do início do século XX, chamavam a atenção para aspectos do aprendizado
da leitura e da escrita, que demorariam mais de meio século para serem
identificados e tomados adequadamente como objeto de estudo de pesquisas
científicas. Além de evidenciar os aspectos cognitivos, constitutivos da
aprendizagem da leitura e da escrita, os estudos sociointeracionistas de
Vygotsky e colaboradores advertiam que uma visão geral da história do
desenvolvimento da linguagem escrita nas crianças conduziria naturalmente a
três conclusões fundamentais de caráter prático.
A
primeira delas é que o ensino da escrita deveria ser transferido para a pré-escola,
sob o argumento de que as crianças menores são capazes de descobrir a
função simbólica da escrita.
A
segunda conclusão prática a que chega é resultado desse reconhecimento
de que é mais do que possível, mas,
sobretudo, adequado se ensinar leitura e
escrita às crianças pré-escolares.
Finalmente,
a terceira conclusão prática a que chegou Vygotsky, a partir da interpretação
de estudos acerca do desenvolvimento da escrita nas crianças, foi quanto à
necessidade de esta ser ensinada naturalmente.
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